sexta-feira, 3 de outubro de 2014

H de "He loved beauty that looked kind of destroyed" (X)


NAS TRASEIRAS DO REAL


parque de locomotivas em San Jose
     desconsolado eu deambulava
frente a uma fábrica de tanques
     e sentei-me num banco
junto à baiuca do agulheiro.

Uma flor jazia no feno sobre 
     a estrada asfaltada 
- a assombrosa flor do feno
     pensei eu - tinha um
negro caule crestado e uma
     corola de espinhos sujos
amarelados como polegadas
     da coroa de Jesus e um tufo
de algodão seco e manchado
     no meio tal pincel de barba
usado que jazesse soterrado
     há um ano na garagem.

Amarela flor, amarela e
     flor da indústria,
dura flor aguçada e feia,
     e ainda assim flor,
com a forma da grande Rosa
     amarela dentro da cabeça!
É esta a flor do Mundo.


San Jose, 1954



Allen Ginsberg, Uivo e outros poemas,
trad. Margarida Vale de Gato,
Lisboa: Relógio D'Água, 2014

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