sábado, 21 de dezembro de 2013

E de "E ando na vida à procura/ Duma noite menos escura" (II)


RUBOR DOS MADRUGADORES


Para Henri Mathieu



A verdade é pessoal.
   

Cuidado: nem todos são dignos da confidência.
   
Abraçarei aquele que, emergindo do seu cansaço e do seu suor, se aproximará para me dizer: "Vim enganar-te."
    
Ó grande barreira negra, a caminho da tua morte, porque é que te cabe sempre mostrar o relâmpago?

  


I

O estado de espírito do sol nascente é de alegria, apesar do dia cruel e da recordação da noite. A cor do coágulo torna-se o rubor da aurora.

II
Quando temos a missão de acordar, começamos por nos lavar no rio. O primeiro encantamento, tal como o primeiro assombro, são para nós próprios.

III
Impõe a tua sorte, agarra com força a tua felicidade e enfrenta o teu risco. Observando-te, eles acabarão por se habituar.

IV
No auge da tempestade, há sempre um pássaro para nos tranquilizar. É o pássaro desconhecido. Canta antes de levantar voo.

V
A atitude mais sábia é não se aglomerar, mas, na criação e na natureza comuns, encontrar o nosso número, a nossa reciprocidade, as nossas diferenças, a nossa passagem, a nossa verdade, e esse toque de desespero que lhes serve de aguilhão e de nevoeiro instável.



VI

Vão ao essencial: não precisam de árvores jovens para reflorestar o vosso bosque?



A intensidade é silenciosa. A sua imagem não. (Amo quem me ofusca e acentua depois a escuridão dentro de mim.)



VIII
Como sofre o mundo, para se tornar do homem, ao ser façonné ente as quatro paredes de um livro! Que o entreguem depois às mãos de especuladores e de extravagantes que o pressionam para avançar mais depressa do que o seu próprio movimento, como não ver nisso apenas falta de sorte? Combater 



René Char
[Trad. ID - A continuar]

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