segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XXXVIII)


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     Memórias, sonhos, encontros, desencontros. As marcas incisivas do prazer - e do conhecimento da dor. O rio subterrâneo do furor poético a desaguar no mar de palha deste país à beira-mercado comum plantado. Tralhas, mapas, casas, bichos. A flagelação irónica de um lusíada coitado (é fado nosso) desconfortado no fato cívico - e o ímpeto de bomba agarrado pelo rabo. Sexo q.b. e baba ternurenta. Cervejas agoniadas. Noites de bláblá. A máquina por vezes engripada de reinvenção do dia claro (igual à noite antiquíssima) numa lisboa cesárica, nuns bons e maus cheiros de província havida. Dúvidas, fragmentos, resíduos, desarticulações. Quem é este do cântico jugulado? Quem, na essencial totalidade? Quem, na irada moderação? Quem, no nem por isso invocado direito ao erro próprio tão idêntico a sabedoria? Orfeu ensaia o canto, envolto em treva e algazarra. "Trata-se pois de uma prática de amor". E morte.


Vitor Silva Tavares, "Noves Fora, Sete"
in Eduardo  Guerra Carneiro,  Como quem não quer a coisa,
Lisboa:  &etc, 1978

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