sábado, 11 de junho de 2011

Anjos Caídos (II)

Anjos Tardios
(Poema do Ciclo Primeiro)


São anjos de metal, estendidos no outro lado
do mar, com a pele encostada a um navio.
Anjos inclinados para a madeira, presos a uma
corda, sabendo que o céu se abre para eles como
uma forca. Uma grande luz vem dos penhascos,
traz essas mulheres no seu dorso, esmagadas pelo
olhar. Uma sirene cruza o nevoeiro. É de novo a
morte, a última tentação da carne, o grande vestido
deposto sobre um estrado. Outro anjo nasce
fulminando a beleza do dia. Tem uma voz, um rosto,
uma oficina. É um cântico tardio, uma desordem,
uma paixão que se esvai triturada por uma súbita fraga.


Jaime Rocha
in P2/Público, 11 de Junho de 2011

Sem comentários: