domingo, 24 de abril de 2011

E de Estar (III)

Se é culpa, o conceber; nascer, tormento;
guerra, viver; a morte, fim humano;
se depois de homem, terra e vil gusano,
e, depois de gusano, pó e vento;

se vento, nada, e nada o fundamento;
flor, a beleza; a ambição, tirano;
a glória e fama, pensamento insano,
e vão, em quanto pensa, o pensamento,

- quem anda neste mar para afogar-se?
De que serve em quimeras consumir-se,
ou pensar noutra coisa que salvar-se?

De que serve estimar-se e preferir-se,
recordar algo tendo de olvidar-se,
e edificar, para depois ter de ir-se?


Lope de Vega
[Trad. José Bento]

Sem comentários: