quinta-feira, 15 de julho de 2010

O de "Onde se lê amor"

Tudo ali estava nimbado de vida. E de um profundo amor. Estranho como permaneciam visíveis os alicerces, os andaimes, os projectos, os mapas. Livros empilhados. Manuscritos emergiam dos montículos de papel. Tudo ali parecia vir de muito longe. Três continentes – cidade após cidade – rios que nunca mais seriam avistados – e rostos que a memória não deixa sepultar. Tudo, ali, estava nimbado de vida, e de um profundo amor. As paredes cobertas de óleos, de livros, de desenhos. Fotografias, raras, que o coração não deixa amarelecer.
E a música. A música, atravessando, diagonal ininterrupta, as salas todas. Atravessando o corredor, muito longo. Com seus segredos.

Alberto de Lacerda, O Pajem Formidável dos Indícios,
Assírio & Alvim (2010)

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