quarta-feira, 5 de maio de 2010

B de BIOGRAFIA, de David Teles Pereira (Língua Morta, 2010)

Um dos poemas começa assim:


Há dias em que não penso uma só palavra
que queira dizer-te, dias em que as fronteiras entre os homens
se encontram permanentemente abertas ao estreitar de mãos,
como laços de gravata a fecharem-se sobre o colarinho da camisa.
Não penso sequer na tua nuvem a morrer todos os dias à minha porta,
mas diz-me, diz-me afinal de contas tudo o que quiseres.
É que eu, eu passei demasiado tempo na tua pele,
a sonhar os gregos com intenções de cerâmica e laser,
e agora é Outono a caminho do teu rosto,
resta-me passar a rua pelos olhos, pedir café e uma amostra de cinema [datado,
tal como a originalidade da nossa história,
entregue a amanuenses talentosos na hora de nos ortografar bem.


Vou tentar curar a minha falta de palavras de hoje com uma rua,
um café e algum cinema datado.
Por esta ordem precisamente.

1 comentário:

DRIKAS disse...

Muitas vezes as palavras são demasiado pequenas e simples. Não permitem transmitir a grandeza dos sentimentos que temos secretamente guardados dentro de nós... Maravilhosos dias em que nos faltam as palavras, pois originam uma tempestade. E impotência. Assim o coração obriga, exige que toda essa fúria seja canalizada através de gestos... grandes actos de amor e recheados de coragem e de sentimentos puros... Benditos são os dias em que faltam as palavras a alguns homens deveras especiais (os poetas...) que acabam por ser a manifestação de Ágape de uma forma bonita, intensa e única... "O Poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir ser dor... a dor que deveras sente..."
Adriana Pissarra